quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Há males para o bem

O mundo é competitivo. Realidades que fogem de nosso controle com facilidade sugem ao montes. Porém, como inteligentes devemos nos condicionar a enfrentar tais situações e imprimir um ritmo que confronte os obstáculos, pelo menos o mais dificil e impiedoso que há: a acomodação.

Muitas vezes nos acomodamos com uma situação dificil, que exija uma postura aversiva, de enfrentamento e não entendemos que podemos sair dela tendo tal atitude e ação. Mas fica evidente que somos impelidos a esperar sofridamente por algo maior, problema mais sério para que, assim, possamos encontrar uma justificativa desesperadora, é a incrível acomodação que espalha suas consequências negativas.

Saber que teremos dificuldades maiores ao invés de enfrentar os atuais de frente desperta uma falsa paciência, uma preguiça escamoteada pela ilusão sabida de esperar o mal passar. Que nada! O tempo muda o estado das coisas quase que sempre como a Lei de Murphy prevê. Portanto, veja essa fábula e encontre a vaquinha que possa estar dando um retorno duvidoso.

Era uma vez, numa terra distante, um sábio chinês e seu discí­pulo. Certo dia, em suas andanças, avistaram ao longe um casebre. Ao se aproximar, notaram que, a despeito da extrema pobreza do lugar, a casinha era habitada. Naquela área desolada, sem plantações nem árvores, viviam um homem, uma mulher, seus três filhos pequenos e uma vaquinha magra e cansada. Com fome e sede, o sábio e o discí­pulo pediram abrigo por algumas horas. Foram bem recebidos. A certa altura, enquanto se alimentava, o sábio perguntou:

- Este é um lugar muito pobre, longe de tudo. Como vocês sobrevivem?

- O senhor vê aquela vaca? Dela tiramos todo o nosso sustento – disse o chefe da famí­lia. – Ela nos dá leite, que bebemos e também transformamos em queijo e coalhada. Quando sobra, vamos à cidade e trocamos o leite e o queijo por outros alimentos. É assim que vivemos.

O sábio agradeceu a hospitalidade e partiu. Nem bem fez a primeira curva da estrada, disse ao discí­pulo:

- Volte lá, pegue a vaquinha, leve-a ao precipí­cio ali em frente e atire-a lá pra baixo.

O discí­pulo não acreditou.

- Não posso fazer isso, mestre! Como pode ser tão ingrato? A vaquinha é tudo o que eles têm. Se eu jogá-la no precipí­cio, eles não terão como sobreviver. Sem a vaca, eles morrem!

O sábio, como convém aos sábios chineses, apenas respirou fundo e repetiu a ordem:

- Vá lá e empurre a vaca no precipí­cio.

Indignado porém resignado, o discí­pulo voltou ao casebre e, sorrateiramente, conduziu o animal até a beira do abismo e a empurrou. A vaca, previsivelmente, estatelou-se lá embaixo.

Alguns anos se passaram e durante esse tempo o remorso nunca abandonou o discí­pulo. Num certo dia de primavera, moí­do pela culpa, abandonou o sábio e decidiu voltar àquele lugar. Queria ver o que tinha acontecido com a famí­lia, ajudá-la, pedir desculpas, reparar seu erro de alguma maneira. Ao fazer a curva da estrada, não acreditou no que seus olhos viram. No lugar do casebre desmazelado havia um sí­tio maravilhoso, com muitas árvores, piscina, carro importado na garagem, antena parabólica. Perto da churrasqueira, estavam três adolescentes robustos, comemorando com os pais a conquista do primeiro milhão de dólares. O coração do discí­pulo gelou. O que teria acontecido com a famí­lia? Decerto, vencidos pela fome, foram obrigados a vender o terreno e ir embora. Nesse momento, pensou o aprendiz, devem estar mendigando em alguma cidade. Aproximou-se, então, do caseiro e perguntou se ele sabia o paradeiro da famí­lia que havia morado lá há alguns anos.

- Claro que sei. Você está olhando para ela – disse o caseiro, apontando as pessoas ao redor da churrasqueira.

Incrédulo, o discí­pulo afastou o portão, deu alguns passos e, chegando perto da piscina, reconheceu o mesmo homem de antes, só que mais forte e altivo, a mulher mais feliz, as crianças, que haviam se tornado adolescentes saudáveis. Espantado, dirigiu-se ao homem e disse:

- Mas o que aconteceu? Eu estive aqui com meu mestre uns anos atrás e este era um lugar miserável, não havia nada. O que o senhor fez para melhorar tanto de vida em tão pouco tempo?

O homem olhou para o discí­pulo, sorriu e respondeu:

- Nós tí­nhamos uma vaquinha, de onde tirávamos nosso sustento. Era tudo o que possuí­amos, mas um dia ela caiu no precipí­cio e morreu. Para sobreviver, tivemos que fazer outras coisas, desenvolver habilidades que nem sabí­amos que tí­nhamos. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Que número lhe caberia?



Já comparei a vida como uma casa de infortúnios embaraços, mas hoje, ao fazer meu exercício matinal (vício), encarei as lacunas apresentadas do sudoku como sendo reflexos em tantos setores da vida. Que número me caberia? E se removesse o nove para caber ali um modesto seis? Seria ruim, tanto assim se realmente mudanças fossem desempenhadas mesmo por pretextos tão nobres? Ou causaria um "efeito borboleta"?
Às vezes vejo que seria muito bom voltar ao passado (ao futuro seria mais fictício ainda!) para fazer mudanças, correções e/ou reviver propositadamente aquelas boas situações, sabe. Tentaria ou mudar a natureza de argumentos ou mesmo a intensidade daqueles momentos sem interferir em sua natureza porque foi simplesmente bom. De um abraço brando para um muito mais intenso; um olhar acompanhado de um sorriso tímido por outro olhar mais penetrante e demorado, aquele sedutor e irredutível como se fosse por uma questão de vida ou morte; falar com mais doçura e degustar a situação fazendo um convite pelo compromisso de lhe dar companhia... Enfim, tudo seria possível, mas, infelizmente, assim como a matemática de sudoku, o tempo tem seus encaixes sistemáticos que não faz aberturas para remoções quaisquer que sejam. Uma "peça", que seja, está desempenhando papel preponderante no resultado geral, não importando seu peso, cor ou intenção. Seja como for, aprendi que até mesmo um olhar faz encaixar-se sem qualquer pedido de licença, assim como a flecha atirada que não volta e a palavra pronunciada, é uma oportunidade vivida!

sábado, 4 de dezembro de 2010

À deriva em pleno sábado.

O Mundo é Um Moinho
Cartola

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és


Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó


Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés.


Certas canções mesmo pela mansidão da melodia, dos toques ao violão, da sugerstão da fala e da respiração do poeta, executam um reboliço maior, um comportamento avesso e intencional de quem as aceita.



Viva Cartola !

terça-feira, 19 de outubro de 2010

E a semente germina e cresce em direção ao céu. Louvores a vida!








Em meio ao infinito que nos cerca, mas tantas vezes nos esquecemos disso, há beleza e há verdadeiros e corajosos por aí. 
O mundo é cheio de coisas que ainda vamos descobrir. Para todos é assim.
Somos todos iguais nessa estrada sem ré.
Lutar é acreditar na felicidade, ter fé, é fazer o que se sente, pensa e quer. 
É o que te faz ser livre no mundo.
Imaginar, por sua vez é criar o mundo que quiser, é viajar sem sair do lugar, é sonhar acordado, botar o mundo de cabeça pra baixo. 
É ser livre em você.
Qual caminho é o seu, aonde encontra lar? 
Temos mil opções e cada coisa depende do seu próprio olhar.
Seguir o que sinto é o que me faz feliz, tudo que penso está cravado, já faz parte de mim, é aquilo que fiz e faço de mim. Do meu lugar eu vou cuidar e compartilhar, querendo ou não o tempo inteiro. Vivemos assim todos ligados nessa teia invisível e captando muito mais do que dizem as palavras. São teus sentimentos despejados, teus pensamentos vivenciados que tiram a capa que qualquer um veste.
O querer é sentir, é viver cada detalhe de um momento. Se entregar, confiar que fará o melhor e saber que nunca vai terminar, simplesmente irá se transformar.
Transmita o que quer que exista bem à sua vista.
A vida é um espelho e essa frase nem é minha.
E aprendemos e seguimos nessa risca incerta, escrevendo e desenhando nossa própria história, direcionando a toda hora a seta. 
Cada um é um, seres diferentes, mas misticamente colocados convivendo juntos. As pessoas se conectam, toda a vida é interligada.
Escrever tudo isso pra mim é como assoprar no ar, você escreve e nem sabe quem é que irá ver e se verá.  E irão simplesmente ver? Espero que faça alguém pensar, questionar, me criticar, me diga o contrário que te direi: "Correto". Penso do meu jeito, mas respeito seu direito. Percepções diferentes, porque o velho mundo nunca para!
Quero que tenhamos coragem pra tentar e pra ser melhor.
São os votos de uma alma de profundezas e de céus, uma alma sonhadora, de uma vida que já me parecem muitas, são escolhas atrás de escolhas.
Fogo molhado, ar estagnado ou água que queima, terra que voa.
Tudo em tudo existe.

domingo, 17 de outubro de 2010

Razões para se manter na ativa

Tenho recebido alguns e-mails comentando relação, abandono, até em twittis, de cristãos católicos, evangélicos, de outras denominações também (religião é composta por pessoas, dá nisso ok) e pra não ficar entediado vai abaixo uma lista que ao meu ver não causa tanta alegria assim, mas também NADA DE TENTAR SE MATAR NUM CANTO DA CASA, POW! E é engraçado como há tantos que acham que ficar com alguém tem que estar apaixonado, amando, sofrendo.... 

Como behaviorista dos pés à cabeça acho uma bobagem tudo isso! Seja consciente e esteja com alguém tendo o controle de seus sentimentos. Imagine um barco que o comandante deve tirar do meio da tormenta: ele vai pelo desespero ou pela habilidade consciente que adquiriu pela prática de anos e anos, estudando cada trajeto? Claro que o sentimento só iria atrapalhá-lo, sem comentários... Na relação é a mesma coisa, goste da pessoa mas não espere amá-la, apaixonar-se por ela para enfim fazer a diferença na vida dela, senão a vida passa e você fica preso ao sentimento, nem tanto à pessoa. 

Então fica a minha proposta: bobagem depender de sentimentos! Eles são apenas reações, nunca ação, coisa primeira! 
Se não der certo então liguem para o Dr. Flávio Gikovate rs...Estou consciente de que escolhas todos nós somos capazes de fazer. Bom, errar faz parte também, não é? Mas erre menos.

Enfim, quem está solteiro, que procure se conhecer mais um pouco e, aí sim, quando não mais encontrar motivo para ficar só, procure alguém que lhe agregue valores. Assim, dificilmente correrás o risco de ficar dependente de alguém, mesmo quando esta pessoa decida "sair fora" de sua vida. Bom, também de ficar ligando para os amigos em plena calada da noite pedindo conselhos sobre A B e C... de dia tudo bem mas pela noite em altas madrugas NÃO CAI BEM! De hoje em diante meu celular não mais existe nas madrugadas! Olhos pesados...

Por isso, no mundo da net há meios de estreitar as distâncias mas que jamais deixe que sua vida se resuma a encontros de bits, ok? Pelo menos para um começo de conversa eles podem ser eficientes. 

Agora se você é tímido(a), então vai o meu conselho: na vida tudo muda, até bermuda! Pense nisso.

Façam bom proveito da lista de sites em que você mata essa carência, ou seja lá como a nomeie. 


Valew!

www.ParPerfeito.com.br
www.be2.com.br/Belem
www.relacionamentos.net
www.amorespossiveis.com.br
www.parperfeito.com.br
www.teprocurando.com.br/
namoro.aonde.com
www.xaveque.me
www.Amigos.com/Relacionamento
www.AmorEmCristo.com
www.solteiroscomfilhos.com
www.NamoroOnline.com.br
www.iCasei.com.br
BrazilCupid.com/Relacionamento
www.paqueragospel.com/
www.namoroonline.com.br
www.sitederelacionamento.org/
www.supersitesdaweb.com/Namoro/
http://sitesderelacionamento.net/
www.Namoro.UOL.com.br
NamoroEvangelico.Ask.com
www.altalibido.com.br
www.RomanceCristao.com
www.paqueragospel.com
www.sexocristao.com
www.amoremcristo.com
www.DivinoAmor.com.br
arca.namoroonline.com.br/index_7.php
www.namorouniversitario.com.br/
www.cadecristo.com.br/relacionamentos/relacionamentos_pag1.htm
www.fidelitate.com

E por que não?

www.orkut.com
www.facebook.com
www.twitter.com
www.lisfacil.com.br (tem gosto pra tudo, ne)
classificados da vida!
prima-tia-irmã da vizinha da avó da cunhado do irmão do meio!
fila de banco
ponto de ônibus
ligando errado e uma mulher recém solteira atende
.
Se der errado, tente o Google!
.
Se não der jeito: só um milagre na sua vida!



Terapia do Amor + Fitinha da Conquista (haves) + barraca de ervas + quiromancia + amigos de amigos....

sábado, 16 de outubro de 2010

OLHOS VERDES _ Vicente de Carvalho


Olhos encantados, olhos cor do mar
Olhos pensativos que fazeis sonhar!
Que formosas cousas, quantas maravilhas
Em vos vendo sonho, em vos fitando vejo:
Cortes pitorescos de afastadas ilhas
Abanando no ar seus coqueirais em flor,
Solidões tranqüilas feitas para o beijo,
Ninhos verdejantes feitos para o amor...
Olhos pensativos que falais de amor!
Vem caindo a noute, vai subindo a lua...
O horizonte, como para recebê-las,
De uma fímbria de ouro todo se debrua;
Afla a brisa, cheia de ternura ousada,
Esfrolando as ondas, provocando nelas
Brusco arrepios de mulher beijada...
Olhos tentadores da mulher amada!
Uma vela branca, toda alvor, se afasta
Balançando na oda, palpitando ao vento;
Ei-la que mergulha pela noute vasta,
Pela vasta noute feita de luar;
Ei-la que mergulha pelo firmamento
Desdobrado ao longe nos confins do mar...
Olhos cismadores que fazeis cismar!
Branca vela errante, branca vela errante,
Como a noite é clara! como o céu é lindo!
Leva-me contigo pelo mar... Adiante!
Leva-me contigo até mais longe, a essa
Fímbria do horizonte onde te vais sumindo
E onde acaba o mar e de onde o céu começa...
Olhos abençoados, cheios de promessa!
Olhos pensativos que fazeis sonhar,
Olhos cor do mar!
(Rosa, rosa de amor, in Poemas e canções, 1908.)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O necessário Adeus

Hoje foi um dia atípico! 
A tranqüilidade estava pairando sobre mim e eu sentia até que o clima do espaço era gélido, quase europeu, parecia que ia nevar e tocar Raindrops keep fallin'on my head numa performance de Natal. Mas, entre passos curtos entendi uma queixa: escutara uma amiga e esta me falara do fim de seu relacionamento. Detalhe: como numa guerra onde há mortos e mutilados, no amor encontramos também um saldo psicologicamente muito parecido. Nada físico, mas seu psique é refém da situação sim. O muito que eu fiz era pouco para ela. Assim, de sopetão é difícil ter algo pronto pra dizer. A dor dilacerando aquela moça, nada em meu bolso que pudesse passar. Mas lembrei-me de um texto apropriado de Martha Medeiros, tão bom quanto injetável. Serviu muito bem, mas que também serve como um bom profilático. 
Não quero aqui dizer que ninguém merece uma segunda chance, mas defendo a tese de que o amor tem que primeiro brotar dentro de nós. Coisa própria. A nossa concepção é a velha concepção ocidental, greco-romana, na qual somos completos pelo outro, somos metade, imperfeitos. Na verdade, o momento de corte do cordão umbilical simboliza a ruptura dessa dependência. Portanto, somos inteiros, completos, únicos, e necessitamos expor nossas qualidades e rever conceitos ultrapassados.




Essa de sofrer por eras, também a repudio, é inconsistente, egoísmo total, pois estamos privando o outro de sua liberdade. E a nós... Bem, reféns de algo que nem mais existe, se desfez entre nossos dedos. Caiu no chão, levado pela correnteza da chuva. Dentro de um bueiro. Quem quer ainda procurar? Perdidos: quem o(a) procurava está se perdendo aos poucos... Chega a ser mera tolice.

Então, encaremos o fim de um relacionamento como um novo nascimento e nos tratemos como novidade também! E que amar pessoas interessantes (não existe perfeição humana) sejam situações nutritivas para o corpo e a alma, esforço seu e dele(a) em direção a esse objetivo de encarar a vida como ela deve ser vista: maravilhosa e deslumbrante. Este, que seja o começo e, a partir daí, ser o meio consistente, sabendo que o mar de rosas se passa em conto de fadas.

Até que podemos viver um conto fantástico a cada dia, sabe... 


Certo vez um poeta frisou: "Somos capazes de criar histórias. Mas que tal tentarmos criar um conto? Contos são breves e objetivos, o gozo é mais impulsivo e o riso mais verdadeiro. Não o vejo como preto ou branco, mas na pluralidade de tons que as primárias me permitem produzir. Não permita esconder sua mãos em luvas cirúrgicas, suje as mãos! Aplique novas texturas em tudo que sente vontade de pôr vida:  desenhe expressões exclamativas; olhares penetrantes que saiam da tela; e contorne a boca de suas personagens para contemplar o absurdo que você não fez consigo, infelizmente.

Só depende de nós. 


DESPEDIDA

Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,
seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, 
com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,
já que ainda estamos tão embrulhados na dor
que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.

A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços,
a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:
a dor de abandonar o amor que sentíamos. 
A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, 
sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. 
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, 
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual 
a gente se apega. Faz parte de nós. 
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, 
mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente, 
e que só com muito esforço é possível alforriar.

É uma dor mais amena, quase imperceptível. 
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’
propriamente dita. É uma dor que nos confunde. 
Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos 
deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por 
ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, 
que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. 
É o arremate de uma história que terminou, 
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente… 
E só então a gente poderá amar, de novo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Beijo



Posto aqui um trecho daquele que considero a descrição mais perfeita de um beijo. A sutileza e a intenção daquela que é a maior das demonstrações de afetividade. Queira ou não, sendo no começo ou ao fim, é o beijo quem decide!




"Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água."

Julio Cortázar

O verdadeiro Círio vai além da Berlinda.



É Círio outra vez. Em Belém do Pará, a festa religiosa que colore sempre o segundo domingo de Outubro caminha em passos lentos e controlados, um mais um vão formando um mar de gente! Onde aqueles que nunca se viram conectam-se de uma forma que extrapola o limite da racionalidade. Somos todos desconhecidos num coro coeso, epiderme, coletivo, rumo ao caminho sempre aquele pré-estabelecido. O coletivo tem um ideal, ignorando o sentimento que o mundo impõe, que rege o indivíduo. É tarde: agora somos um todo, mais que religioso. O pder é invasivo, sanga o coração de quem crê. Revigora o olhar, lacrimeja. O homem encontra o sagrado, é pequenizado, sentimento materno, desde cedo conversa com aquela pequena representação do que é muito maior que sua imaginação. Caminhos percorreram, viram muitas coisas mas sentindo a sensação de estar presente naquele momento, ou mais uma vez ou pela primeira. Sempre será único tal encontro. Nunca é a mesma coisa, jamais... É pérola com honras de estado.
Romeiros... o sacrifício foi realizado por Cristo há tempos, não o repitamos, nem ao menos tentemos! Maria Imaculada é digna de respeito mas não de louvor e sofrimento, isso exacerba o que ela mesma aceitaria com sua grande humildade.
Mas o Círio tem coisas maravilhosas. O ato de solidariedade, respeito, fraternidade, família, coesão... enfim, o Círio ilumina não somente as ruas, mas o coração de cada um de nós, paraenses. Nunca esqueçamos o seu verdadeiro significado que se resume na importância de ser cristão. Todos devemos respeitar a fé de cada um, principalmente de quem amamos. Caso contrário, não demonstramos nem mesmo tolerância, o que é digno de pena. A fé é tão importante para o homem que pelos atos de amor e devoção, independente de qualquer credo, torna-se mais importante que o próprio corpo, mesmo quem não tem religião acredita em alguma coisa e a exprime com teor de alquimia.
Olhei ontem para aquela berlinda, vi um símbolo, apenas isso. Porém, nada pequeno, é de significado grande, magnífico. Sob o olhar de quem se propôs ser o mais imparcial possível, testemunhei fatos que provam que a vida humana precisa se filiar ao que desperta uma emoção grande, algo que o faça humano, tipo lhe permitindo imaginar, sublimar o que acontece quando estamos na peleja, quando estamos impotentes, quando a vida acaba... "o que virá?", coisas grandes estão por trás dessa experiência de se ter fé. E ver essa fé sendo lágrima nos olhos de uma criança, de um idoso.... Aí que eu me sinto demais humano. Alvoroço de gente, desconhecidos por todos os lado mas nunca se sentindo inseguro, marginalizado. Os encontros entre patrões e empregados, ricos e pobres, meliantes e gente de boa índole como se fossem ocupar o mesmo espaço, empurra-empurra, franzir de testa, calor... Mas vale a pena! Queria que fosse círio todas as vezes ao menos ao mês. Uma festa que diminuiria nossas diferenças, seja por cor/raça, seja pelo que temos no bolso, pelas convicções, são distâncias enormes, piores que físicas! As "promoções" seriam também mais uma vez de sentimentos e atos de solidariedade, no varejo e atacado: mais fraternidade entre nossos paraenses. Ideologia boa e barata, comprada somente no mês de outubro, que lástima esperarmos tanto pra termos toda essa maravilha numa simples semana!
Posso não ter o sentimento religioso que alguns esperavam encontrar em mim nessa época, mas o que essa festa faz ao nosso povo é revigorar a esperança e estreitar os laços de fraternidade.

Uma vida de inteiras ressurreições


Um pouco longe de muita coisa, mas perto do que mais importa. Talvez uma aproximação nada convencional, quiçá desproporcional. O simples fato de haver perguntas sem repostas, pedidos não aceitos e propostas indecorosas de quem se nega a dar. E está longe de que lhe digam: "Ei, respeite o morto!". Que de mofino não tem nada, pois quer gritar. Mas mesmo assim respeitem o outro, que é entusiasta ao ponto de fazer algo e não refletir.
Um reino distante, contemplado pela janela entreaberta. Como ouso ser espião do lugar em que estive tão dentro; fora, nem imaginara passar segundos. Suspirava quando sentia aquele sabor todo no olhar, no cheiro liso e suave, dos cabelos que contava cada um de seus fios. Meu momento era o nosso momento. Nada além de conscientemente estar querendo somente sentir. Abstraindo enquanto me entregava em seu sorriso. Básico ser completamente um. Indubitável ser inteiro quando me propusera dividir minha história no afastamento de seus lábios. Multiplica-se no olhar, e no queixo aquele toque delicado.

Pós e pré-dia de folga

Julgo sem pensar que a imortalidade é a mais singela das imoralidades. Tento explicar: é que ser imortal talvez fizesse brotar a condição mais perfeita de ser imperfeito em tantas coisas, estado condicionado ao malfeitor!
No amor seria apaixonar-se com uma certeza apenas: continuar a amar; nos outros, ser sincero e normal como qualquer mortal, como qualquer homem no altruísmo de suas atribuições. Somos tão próximos da imortalidade. Em certas, a somos em comunhão com o avesso do avesso.

terça-feira, 13 de julho de 2010

PRECIOSA HISTÓRIA DE AMOR...

Há pouco recebi e vi (atrasado) o e-mail que contém a seguinte história. 


Seja o que  for pensar, eu penso que trata-se de uma atitude nobre, rara e próxima da idealização de muitas pessoas, mas pouquíssimas com a esta coragem necessária para tornar pensamento em desejo, desejo em realização.







HISTÓRIA DE AMOR!





A moça desta foto se chama Katie Kirkpatrick, e tem 21 anos. Ao lado dela está seu noivo Nick de 23 anos..
A foto foi tirada pouco antes da cerimônia de casamento dos dois, realizada em 11 de janeiro de 2005, nos EUA. Katie tem câncer em estado terminal e passa horas por dia recebendo medicação.
Na foto Nick aguarda o término de mais uma de suas sessões. 




Apesar de sentir muita dor, de vários órgãos esteram apresentando falências e de ter que recorrer à morfina, Katie levou adiante o casamento e fez questão de cuidar de todos os detalhes.
O vestido teve que ser ajustado várias vezes, pois Katie perde peso todos os dias devido ao câncer.


Um acessório inusitado na festa foi o tubo de oxigênio usado por Katie. Ele acompanhou a noiva em toda a cerimônia e na festa também.
O outro casal da foto são os pais de Nick, emocionados com o casamento do filho com a mulher que ele foi namorado desde a adolescência.


Katie, sentada em uma cadeira de rodas e com o tubo de oxigênio, escutando o marido e os amigos cantando para ela







No meio da festa, Katie pára para descansar um pouco. A dor a impede de ficar em pé por muito tempo.



Katie morreu 5 dias depois do casamento. Ver uma mulher tão debilitada vestida de noiva e com um sorriso nos lábios nos faz pensar...a felicidade sempre está ao alcance, dure enquanto dure, por isso devemos deixar de complicar nossas vidas...   
A vida é curta, por isso
Trabalhe como se fosse seu primeiro dia 


Perdoe rapidamente


Beije demoradamente, ame verdadeiramente


Ría incontrolavelmente


e nunca deixe de sorrir


por mais estranho que seja o motivo.
A vida pode não ser a festa que esperamos
mas enquanto estamos aqui, devemos sorrir e agradecer... 




sábado, 12 de junho de 2010

Hoje é dia oficIal dos namorados!

Sem planos

Sem companhia física

Quem sabe ao menos em mente

Se tem

A pretendida?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Tempo Em Que Ouço

de Ronaldo DeBoer

Mesmo que dure um olhar sereno que seja,
é uma incógnita que se abre para o infinito
me deslumbro por isso
insólito me firo e insípido insisto à razão

e entre o riso lisonjeiro e a ardência impulsiva
fico a deriva: não há saída e tendo sentindo-a
friso que o que passo a pensar sobre aquele breve olhar
é o filme de uma vida inteira

como um fogo de rosas vermelhas
que se abre em leque
e me intriga a cogitar o quanto é difícil
para eu poder suportar

mesmo que não seja o instante adequado
o fato de quando voltarei a sentir essa torrente
lapso eterno
que dura o tempo em que ouço

a passagem do olhar
este me espreita e me acende sou um novo inquilino
e o juízo pediu as contas e foi-se embora
ou jaz e não fará nenhuma falta.

sábado, 5 de junho de 2010

EU TE AMO - Tom Jobim / Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Marília de Dirceu - Tomás Antônio Gonzaga

Fragmentos do Poema Lírico

MARÍLIA DE DIRCEU

Não sei, Marília, que tenho,
depois que vi o teu rosto, 
pois quando não é Marília
já não posso ver com gosto.
Noutra idade me alegrava,
até quando conversava
com o mais rude vaqueiro:
hoje, ó bela, me aborrece
indo a trato lisonjeiro
do mais discreto pastor.
Que efeitos são os que sinto?
Serão efeitos de amor?
Saio da minha cabana
sem reparar no que faço;
busco o sítio aonde moras,
suspendo defronte o passo.
Fito os olhos na janela;
aonde, Marília bela,
tu chegas ao fim do dia;
se alguém passa e te saúda,
bem que seja cortesia,
se acende na face a cor.
Que efeitos são os que sinto?
Serão efeitos de amor?

Se estou, Marília, contigo,
Não tenho um leve cuidado;
Nem me lembra se são horas
De levar à fonte o gado.
Se vivo de ti distante,
Ao minuto, ao breve instante
Finge um dia o meu desgosto;
Jamais, pastora, te vejo
Que em teu semblante composto
Não veja graça maior.
Que efeitos são os que sinto?
Serão efeitos de amor?
(...)

Vou retratar a Marília,
a Marília, meus amores;
porém como Se eu não vejo
quem me empreste as finas cores:
dar-me a terra não pode;
não, que a sua cor mimosa
vence o lírio, vence a rosa,
o jasmim e as outras flores.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Traz-me as tintas do céu.
Mas não se esmoreça logo;
Busquemos um pouco mais;
Nos mares talvez se encontrem
Cores que sejam iguais.
Porém, não, que em paralelo
da minha ninfa adorada
pérolas não valem nada,
não valem nada os corais.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Trazer-me as tintas do céu.
Só no céu achar-se podem
tais belezas como aquelas
que Marília tem nos olhos,
e que tem nas faces belas;
mas às faces graciosas,
aos negros olhos, que matam,
não imitam, não retratam
nem auroras nem estrelas.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Traze-me as tintas do céu.

Entremos, Amor, entremos,
entremos na mesma esfera;
venha a deusa de Citera.
Porém, , não, que se Marília
no certame antigo entrasse
bem que a Paris não peitasse,
a todas as três vencera.
Vai-te, Amor, em vã socorres
Ao mais grato empenho meu:
Para formar-lhe o retrato
Não bastam tintas do céu.
(...)

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guarda alheio gado,
De tosco trato de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais finas lãs de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte:
Dos anos inda não está cortado;
Os pastores que habitam este monte
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal desprezo toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste
Nem canto letra, que não seja minha.
 Graças, Marília Bela,
Graças à minha estrela.
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil pastoras,
Depois que o teu afeto me segura
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho que cubra monte e prado;
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho e mais que um trono.
          Graças, Marília bela,
          Graças à minha estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
o rio sobre os campos levantado:
acabe, acabe a peste matadora;
sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
para viver feliz, Marília, basta
que os olhos movas e me dês um riso
Graças, Marília bela,
Graças a minha estrela!
(...)

Eu, Marília, não fui algum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho a que me encoste, um só cajado.
para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
(...)
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos prazeres e desgraça.
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi pastor de gado.
A devorante
mão da negra Morte
Acaba de roubar o bem que temos;
Até na triste campa não podemos
Zombar do braço da inconstante sorte:
(...)
Ah! Enquanto os Destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim, façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
(...)
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca, extremoso, que eu assim resista
A dor imensa, que me cerca e mata.

quando em meu mal pondero
Então mais vivamente te diviso:
vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face.
E aperto sobre o peito em vão os braços.

Conheço a ilusão minha;
A violência da mágoa não suporto;
Foge-me a vista e caio
Não sei se vivo ou morto.
Estremece-me Amor de estrago tanto;
Reclina-me o peito e, com mão terna.
Me limpa os olhos de salgado pranto.
Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto,
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
- Se queres ser piedoso,
procura o sítio em que Marília mora,
pinta-lhe o meu estrago,
e vê, Amor, se chora.
Se a lágrima verter a dor a arrasta,
Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta.

[Tomás Antônio Gonzaga]