quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Há males para o bem

O mundo é competitivo. Realidades que fogem de nosso controle com facilidade sugem ao montes. Porém, como inteligentes devemos nos condicionar a enfrentar tais situações e imprimir um ritmo que confronte os obstáculos, pelo menos o mais dificil e impiedoso que há: a acomodação.

Muitas vezes nos acomodamos com uma situação dificil, que exija uma postura aversiva, de enfrentamento e não entendemos que podemos sair dela tendo tal atitude e ação. Mas fica evidente que somos impelidos a esperar sofridamente por algo maior, problema mais sério para que, assim, possamos encontrar uma justificativa desesperadora, é a incrível acomodação que espalha suas consequências negativas.

Saber que teremos dificuldades maiores ao invés de enfrentar os atuais de frente desperta uma falsa paciência, uma preguiça escamoteada pela ilusão sabida de esperar o mal passar. Que nada! O tempo muda o estado das coisas quase que sempre como a Lei de Murphy prevê. Portanto, veja essa fábula e encontre a vaquinha que possa estar dando um retorno duvidoso.

Era uma vez, numa terra distante, um sábio chinês e seu discí­pulo. Certo dia, em suas andanças, avistaram ao longe um casebre. Ao se aproximar, notaram que, a despeito da extrema pobreza do lugar, a casinha era habitada. Naquela área desolada, sem plantações nem árvores, viviam um homem, uma mulher, seus três filhos pequenos e uma vaquinha magra e cansada. Com fome e sede, o sábio e o discí­pulo pediram abrigo por algumas horas. Foram bem recebidos. A certa altura, enquanto se alimentava, o sábio perguntou:

- Este é um lugar muito pobre, longe de tudo. Como vocês sobrevivem?

- O senhor vê aquela vaca? Dela tiramos todo o nosso sustento – disse o chefe da famí­lia. – Ela nos dá leite, que bebemos e também transformamos em queijo e coalhada. Quando sobra, vamos à cidade e trocamos o leite e o queijo por outros alimentos. É assim que vivemos.

O sábio agradeceu a hospitalidade e partiu. Nem bem fez a primeira curva da estrada, disse ao discí­pulo:

- Volte lá, pegue a vaquinha, leve-a ao precipí­cio ali em frente e atire-a lá pra baixo.

O discí­pulo não acreditou.

- Não posso fazer isso, mestre! Como pode ser tão ingrato? A vaquinha é tudo o que eles têm. Se eu jogá-la no precipí­cio, eles não terão como sobreviver. Sem a vaca, eles morrem!

O sábio, como convém aos sábios chineses, apenas respirou fundo e repetiu a ordem:

- Vá lá e empurre a vaca no precipí­cio.

Indignado porém resignado, o discí­pulo voltou ao casebre e, sorrateiramente, conduziu o animal até a beira do abismo e a empurrou. A vaca, previsivelmente, estatelou-se lá embaixo.

Alguns anos se passaram e durante esse tempo o remorso nunca abandonou o discí­pulo. Num certo dia de primavera, moí­do pela culpa, abandonou o sábio e decidiu voltar àquele lugar. Queria ver o que tinha acontecido com a famí­lia, ajudá-la, pedir desculpas, reparar seu erro de alguma maneira. Ao fazer a curva da estrada, não acreditou no que seus olhos viram. No lugar do casebre desmazelado havia um sí­tio maravilhoso, com muitas árvores, piscina, carro importado na garagem, antena parabólica. Perto da churrasqueira, estavam três adolescentes robustos, comemorando com os pais a conquista do primeiro milhão de dólares. O coração do discí­pulo gelou. O que teria acontecido com a famí­lia? Decerto, vencidos pela fome, foram obrigados a vender o terreno e ir embora. Nesse momento, pensou o aprendiz, devem estar mendigando em alguma cidade. Aproximou-se, então, do caseiro e perguntou se ele sabia o paradeiro da famí­lia que havia morado lá há alguns anos.

- Claro que sei. Você está olhando para ela – disse o caseiro, apontando as pessoas ao redor da churrasqueira.

Incrédulo, o discí­pulo afastou o portão, deu alguns passos e, chegando perto da piscina, reconheceu o mesmo homem de antes, só que mais forte e altivo, a mulher mais feliz, as crianças, que haviam se tornado adolescentes saudáveis. Espantado, dirigiu-se ao homem e disse:

- Mas o que aconteceu? Eu estive aqui com meu mestre uns anos atrás e este era um lugar miserável, não havia nada. O que o senhor fez para melhorar tanto de vida em tão pouco tempo?

O homem olhou para o discí­pulo, sorriu e respondeu:

- Nós tí­nhamos uma vaquinha, de onde tirávamos nosso sustento. Era tudo o que possuí­amos, mas um dia ela caiu no precipí­cio e morreu. Para sobreviver, tivemos que fazer outras coisas, desenvolver habilidades que nem sabí­amos que tí­nhamos. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Que número lhe caberia?



Já comparei a vida como uma casa de infortúnios embaraços, mas hoje, ao fazer meu exercício matinal (vício), encarei as lacunas apresentadas do sudoku como sendo reflexos em tantos setores da vida. Que número me caberia? E se removesse o nove para caber ali um modesto seis? Seria ruim, tanto assim se realmente mudanças fossem desempenhadas mesmo por pretextos tão nobres? Ou causaria um "efeito borboleta"?
Às vezes vejo que seria muito bom voltar ao passado (ao futuro seria mais fictício ainda!) para fazer mudanças, correções e/ou reviver propositadamente aquelas boas situações, sabe. Tentaria ou mudar a natureza de argumentos ou mesmo a intensidade daqueles momentos sem interferir em sua natureza porque foi simplesmente bom. De um abraço brando para um muito mais intenso; um olhar acompanhado de um sorriso tímido por outro olhar mais penetrante e demorado, aquele sedutor e irredutível como se fosse por uma questão de vida ou morte; falar com mais doçura e degustar a situação fazendo um convite pelo compromisso de lhe dar companhia... Enfim, tudo seria possível, mas, infelizmente, assim como a matemática de sudoku, o tempo tem seus encaixes sistemáticos que não faz aberturas para remoções quaisquer que sejam. Uma "peça", que seja, está desempenhando papel preponderante no resultado geral, não importando seu peso, cor ou intenção. Seja como for, aprendi que até mesmo um olhar faz encaixar-se sem qualquer pedido de licença, assim como a flecha atirada que não volta e a palavra pronunciada, é uma oportunidade vivida!

sábado, 4 de dezembro de 2010

À deriva em pleno sábado.

O Mundo é Um Moinho
Cartola

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és


Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó


Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés.


Certas canções mesmo pela mansidão da melodia, dos toques ao violão, da sugerstão da fala e da respiração do poeta, executam um reboliço maior, um comportamento avesso e intencional de quem as aceita.



Viva Cartola !