segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O verdadeiro Círio vai além da Berlinda.



É Círio outra vez. Em Belém do Pará, a festa religiosa que colore sempre o segundo domingo de Outubro caminha em passos lentos e controlados, um mais um vão formando um mar de gente! Onde aqueles que nunca se viram conectam-se de uma forma que extrapola o limite da racionalidade. Somos todos desconhecidos num coro coeso, epiderme, coletivo, rumo ao caminho sempre aquele pré-estabelecido. O coletivo tem um ideal, ignorando o sentimento que o mundo impõe, que rege o indivíduo. É tarde: agora somos um todo, mais que religioso. O pder é invasivo, sanga o coração de quem crê. Revigora o olhar, lacrimeja. O homem encontra o sagrado, é pequenizado, sentimento materno, desde cedo conversa com aquela pequena representação do que é muito maior que sua imaginação. Caminhos percorreram, viram muitas coisas mas sentindo a sensação de estar presente naquele momento, ou mais uma vez ou pela primeira. Sempre será único tal encontro. Nunca é a mesma coisa, jamais... É pérola com honras de estado.
Romeiros... o sacrifício foi realizado por Cristo há tempos, não o repitamos, nem ao menos tentemos! Maria Imaculada é digna de respeito mas não de louvor e sofrimento, isso exacerba o que ela mesma aceitaria com sua grande humildade.
Mas o Círio tem coisas maravilhosas. O ato de solidariedade, respeito, fraternidade, família, coesão... enfim, o Círio ilumina não somente as ruas, mas o coração de cada um de nós, paraenses. Nunca esqueçamos o seu verdadeiro significado que se resume na importância de ser cristão. Todos devemos respeitar a fé de cada um, principalmente de quem amamos. Caso contrário, não demonstramos nem mesmo tolerância, o que é digno de pena. A fé é tão importante para o homem que pelos atos de amor e devoção, independente de qualquer credo, torna-se mais importante que o próprio corpo, mesmo quem não tem religião acredita em alguma coisa e a exprime com teor de alquimia.
Olhei ontem para aquela berlinda, vi um símbolo, apenas isso. Porém, nada pequeno, é de significado grande, magnífico. Sob o olhar de quem se propôs ser o mais imparcial possível, testemunhei fatos que provam que a vida humana precisa se filiar ao que desperta uma emoção grande, algo que o faça humano, tipo lhe permitindo imaginar, sublimar o que acontece quando estamos na peleja, quando estamos impotentes, quando a vida acaba... "o que virá?", coisas grandes estão por trás dessa experiência de se ter fé. E ver essa fé sendo lágrima nos olhos de uma criança, de um idoso.... Aí que eu me sinto demais humano. Alvoroço de gente, desconhecidos por todos os lado mas nunca se sentindo inseguro, marginalizado. Os encontros entre patrões e empregados, ricos e pobres, meliantes e gente de boa índole como se fossem ocupar o mesmo espaço, empurra-empurra, franzir de testa, calor... Mas vale a pena! Queria que fosse círio todas as vezes ao menos ao mês. Uma festa que diminuiria nossas diferenças, seja por cor/raça, seja pelo que temos no bolso, pelas convicções, são distâncias enormes, piores que físicas! As "promoções" seriam também mais uma vez de sentimentos e atos de solidariedade, no varejo e atacado: mais fraternidade entre nossos paraenses. Ideologia boa e barata, comprada somente no mês de outubro, que lástima esperarmos tanto pra termos toda essa maravilha numa simples semana!
Posso não ter o sentimento religioso que alguns esperavam encontrar em mim nessa época, mas o que essa festa faz ao nosso povo é revigorar a esperança e estreitar os laços de fraternidade.

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