quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O necessário Adeus

Hoje foi um dia atípico! 
A tranqüilidade estava pairando sobre mim e eu sentia até que o clima do espaço era gélido, quase europeu, parecia que ia nevar e tocar Raindrops keep fallin'on my head numa performance de Natal. Mas, entre passos curtos entendi uma queixa: escutara uma amiga e esta me falara do fim de seu relacionamento. Detalhe: como numa guerra onde há mortos e mutilados, no amor encontramos também um saldo psicologicamente muito parecido. Nada físico, mas seu psique é refém da situação sim. O muito que eu fiz era pouco para ela. Assim, de sopetão é difícil ter algo pronto pra dizer. A dor dilacerando aquela moça, nada em meu bolso que pudesse passar. Mas lembrei-me de um texto apropriado de Martha Medeiros, tão bom quanto injetável. Serviu muito bem, mas que também serve como um bom profilático. 
Não quero aqui dizer que ninguém merece uma segunda chance, mas defendo a tese de que o amor tem que primeiro brotar dentro de nós. Coisa própria. A nossa concepção é a velha concepção ocidental, greco-romana, na qual somos completos pelo outro, somos metade, imperfeitos. Na verdade, o momento de corte do cordão umbilical simboliza a ruptura dessa dependência. Portanto, somos inteiros, completos, únicos, e necessitamos expor nossas qualidades e rever conceitos ultrapassados.




Essa de sofrer por eras, também a repudio, é inconsistente, egoísmo total, pois estamos privando o outro de sua liberdade. E a nós... Bem, reféns de algo que nem mais existe, se desfez entre nossos dedos. Caiu no chão, levado pela correnteza da chuva. Dentro de um bueiro. Quem quer ainda procurar? Perdidos: quem o(a) procurava está se perdendo aos poucos... Chega a ser mera tolice.

Então, encaremos o fim de um relacionamento como um novo nascimento e nos tratemos como novidade também! E que amar pessoas interessantes (não existe perfeição humana) sejam situações nutritivas para o corpo e a alma, esforço seu e dele(a) em direção a esse objetivo de encarar a vida como ela deve ser vista: maravilhosa e deslumbrante. Este, que seja o começo e, a partir daí, ser o meio consistente, sabendo que o mar de rosas se passa em conto de fadas.

Até que podemos viver um conto fantástico a cada dia, sabe... 


Certo vez um poeta frisou: "Somos capazes de criar histórias. Mas que tal tentarmos criar um conto? Contos são breves e objetivos, o gozo é mais impulsivo e o riso mais verdadeiro. Não o vejo como preto ou branco, mas na pluralidade de tons que as primárias me permitem produzir. Não permita esconder sua mãos em luvas cirúrgicas, suje as mãos! Aplique novas texturas em tudo que sente vontade de pôr vida:  desenhe expressões exclamativas; olhares penetrantes que saiam da tela; e contorne a boca de suas personagens para contemplar o absurdo que você não fez consigo, infelizmente.

Só depende de nós. 


DESPEDIDA

Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,
seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, 
com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,
já que ainda estamos tão embrulhados na dor
que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.

A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços,
a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:
a dor de abandonar o amor que sentíamos. 
A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, 
sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. 
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, 
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual 
a gente se apega. Faz parte de nós. 
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, 
mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente, 
e que só com muito esforço é possível alforriar.

É uma dor mais amena, quase imperceptível. 
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’
propriamente dita. É uma dor que nos confunde. 
Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos 
deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por 
ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, 
que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. 
É o arremate de uma história que terminou, 
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente… 
E só então a gente poderá amar, de novo.

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